Marcelo Barros *
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Esta semana, marcada pelo feriado do 1º de maio, nos faz refletir sobre uma das maiores contradições da sociedade: ela reconhece o trabalho como direito sagrado de todos os seres humanos (Declaração da ONU sobre os Direitos Humanos), mas, ao mesmo tempo, desenvolve um modelo de desenvolvimento econômico, baseado no aumento do desemprego e no absoluto descompromisso com o trabalhador. Como, nestes dias, demonstrou em Goiânia, o sociólogo Ives Lesbaupin, em uma reflexão com agentes sociais, pode-se dizer que nos últimos 30 anos, o mundo foi radicalmente transformado por políticas econômicas que radicalizaram uma forma de Capitalismo que os críticos chamam de "neo-liberal", termo pouco adequado, mas que o distingue do Capitalismo vigente antes de 1970, quando a sociedade procurava crescer economicamente, mas garantindo vida, saúde e trabalho dos cidadãos. A partir de então, a renda dos países cresceu imensamente, mas, ao mesmo tempo, os serviços que os Estados prestavam (educação gratuita, saúde, habitação) foram todos abandonados. O Estado se retirou da função de promover o desenvolvimento e o crescimento do país. Abriu a economia nacional ao capital de fora. A preocupação passou a ser com o capital estrangeiro investido no país e não com o desenvolvimento do povo.
No Brasil, os deputados aprovam a "lei das falências", segundo a qual, se uma empresa cai em falência, a prioridade é pagar suas dívidas com os bancos e empresas internacionais. Depois, na medida em que puder, honra suas obrigações com os trabalhadores. O importante é garantir que as empresas de fora tenham toda facilidade em investir no país. Como as empresas querem lucro para si e não melhoria para o povo, quanto mais reduzem gastos e empregos, mais lucram. Em todo o mundo, o resultado disso é um desemprego estrutural e massivo. Nos últimos 20 anos, mesmo nos países ricos, a taxa de desemprego se multiplicou por dez. Os governos convivem tranquilamente com a super-exploração do trabalhador e a precarização do emprego. Na década de 70, um cortador de cana era obrigado a cortar cinco toneladas de cana por dia. Hoje, o obrigam a cortar 12 toneladas. Multiplicam-se casos de trabalhadores que morrem no trabalho, extenuados. Morrem de trabalhar. A imprensa quase não publica isso. Em todos os países, existem trabalhos de semi-escravidão, exploração de crianças e de estrangeiros. Quando há um escândalo de lavradores trabalharem acorrentados ou sob mira de revolver, o Ministério do Trabalho atua. Mas, infelizmente, o importante é a produção.
Até 1990, no Brasil, 60% dos trabalhadores tinham carteira assinada. Hoje, são 40%. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou: "O Brasil não tem desempregados. Tem inimpregáveis". Conforme esta declaração, o Brasil tem emprego sim, mas não para o seu povo despreparado e ignorante. A ditadura militar dizia que o povo não sabe votar. Agora, dizem que não está preparado para os empregos especializados que a indústria exige. A culpa do desemprego é do trabalhador. Pouco importa que apenas seis grandes empresas mandem na agricultura brasileira e, em um ano, o preço de alguns alimentos tenha subido 168% (Folha de S.Paulo, 13/04/2008).
O professor Milton Santos declara que houve um verdadeiro "desmonte da sociedade e destruição dos laços sociais". "Trata-se da produção voluntária e calculada da pobreza, em um Estado de insegurança social". O sociólogo Michael Davis que estuda a questão urbana no mundo publicou um livro que, significativamente, se chama "Planeta Favela". Os Estados Unidos têm 40 milhões de norte-americanos, (não de latinos), vivendo abaixo da linha da pobreza. E a preocupação dos seus presidentes é diminuir impostos e manter o jeito americano de viver, mesmo se este estilo destrói a natureza e é responsável por uma injustiça social cada dia mais terrível.
A esperança dos pobres é que este sistema não está dando certo em nenhum lugar do mundo. Nenhuma das promessas foram cumpridas e nenhuma das teses do neo-liberalismo se confirmou. Isso permite que, cada vez mais, aumente o número de pessoas que rejeite o pensamento único de que não existem alternativas. Os diversos caminhos de espiritualidade humana recordam de que a vida de todos depende da solidariedade. Multiplicam-se no meio do povo experiências de economia solidária e produção comunitária de empregos em cooperativas e trabalhos de base. Quando este modelo se firmar, poderemos dizer de novo: "viva o 1º de maio!".
* Monge beneditino, teólogo e escritor. Tem 30 livros publicados
"Se a política eleitoral e a ação dos mandatários são as principais ferramentas de promoção do bem comum numa sociedade democrática, não dá para dizer que o Cristão que assume verdadeiramente a sua fé pode deixar de lado a política, uma vez que esta também é um importante instrumento de instauração da justiça social. "
quinta-feira, 1 de maio de 2008
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